O Presidente da República, Filipe Nyusi, confirmou sexta-feira, em Cabo Delgado a chegada, à Moçambique, de tropas militares vindas do Ruanda para apoiar no combate aos ataques terroristas que assolam alguns distritos, daquela província, desde Outubro de 2017.
Mas a vinda ao país de 1000 homens ruandeses, antes do posicionamento no teatro operacional da Força em estado de alerta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), não é bem vista pelo Executivo da África do Sul.
Em entrevista a cadeia de televisão sul-africana, SABC, a Ministra da Defesa sul-africana, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, revelou que não foi acordado com os Chefes de Estado da região que o apoio do país liderado por Paul Kagame chegasse antes do apoio regional.
“A questão do envio de Tropas do Ruanda é um assunto bilateral entre Ruanda e Moçambique”, introduziu a governante, considerado que “é lamentável que este envio aconteça antes do posicionamento das tropas da SADC, porque quaisquer que sejam as relações bilaterais entre o Ruanda e Moçambique, seria de esperar que o Ruanda fosse para Moçambique no contexto de um mandato que fosse conferido pelos chefes de estado da região da SADC”.
Mas, conforme reconhece a titular da Defesa no Governo de Cyril Ramaphosa, trata-se de uma questão bilateral, “uma situação sobre a qual não temos controlo. Significa que Moçambique acordou com os ruandeses que as forças militares de Ruanda possam entrar no país, entretanto não é assim que como os nossos chefes de Estado decidiram”.
Lembre-se que a chegada da força em estado de alerta da SADC está prevista para quinta-feira, dia 15 de Julho, de acordo com a informação avançada numa carta escrita pela Secretária-executiva da organização regional e dirigida ao Secretário-geral das Nações Unidas e confirmada sexta-feira pelo Chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi.
NQAKULA ESTÁ EQUIVOCADA
O Ministro da Defesa Nacional Jaime Neto, reagindo aos pronunciamentos da África do Sul, assegurou, neste domingo na cidade da Beira, que as relações entre Moçambique e a SADC estão a atravessar o melhor momento e que a Ministra da Defesa sul africana, Mapisa-Nqakula está equivocada, em relação a chegada de tropas ruandesas no país.
“Os Chefes do Estado da SADC abordam com frequência a questão de terrorismo em Cabo-Delgado e ao nível ministerial muitas vezes podemos não ter informações concretas daquilo que tenha sido tratado. Obviamente ao nosso nível cabe-nos tomar decisões na base das concertações que são feitas pelos presidentes” reagiu o ministro.
Jaime Neto recordou que em finais de Junho passado, aquando da realização da cimeira extraordinária da SADC em Maputo, ficou decidido
que para além da intervenção das forças do estado de alerta da SADC, Moçambique era livre de contactar outras nações africanas, para pedir apoio. “E foi neste âmbito que Ruanda começou a trazer a sua força desde o dia 9 deste mês. Portanto esta tudo acautelado ao nível do comando da SADC. Alias no fim do dia do passado sábado, aterrou um avião do Botswana em Pemba que levava a bordo oficiais quatro militares daquele país vizinho, que vao criar condições para que a força da SADC possa se instalar a partir do dia 15 deste mês. Portanto como vê, a instalação da forca da SADC não vem antecedida da força do Ruanda.
Ela vem justamente no período acordado. O Ruanda preparou-se muito rapidamente e é por isso que também foi a primeira a chegar e não vai ter um comando isolado. Esta tudo articulado dentro da SADC. Os chefes de Estado estão confortáveis com os ruandeses e eles sabem do que estou a falar”, garantiu Jaime Neto.