Por: Belchior Eduardo
Para onde vais, pobre homem? Perguntou um nativo carregado de sua enxada nos ombros.
Vou à nossa capital Lourenço Marques. Dizem ser uma terra de realizações, uma terra onde o negócio floresce. Dizem também que é vizinha das terras de diamante de Kimberley e de minas, conseguirei realizar o meu sonho. Depois, irei mandar uma carta pelos correios, levar os meus dois filhos e a minha esposa para comigo residir, respondeu Hanganazi Wiredu.
Hanganazi Wiredu era um homem humilde, de pele escura, altura média e trajava calções, não sei ao certo que cor tinham, mas pareciam brancos ou cor de leite. A camisa era preta e gasta pelos raios solares, e ele carregava sua sacola, sempre atrelada ao seu ombro esquerdo.
Vejo que és um homem que sabe o que realmente quer, mas, cá entre nós, não te guies no “ouvir dizer”, pois ouvi que é uma péssima forma de tomar conhecimento.
Somos parecidos nesse aspecto. Obrigado, irmão, pela força. Continuarei com a viagem.
Tenha cuidado na caminhada, a guerra espreitou as nossas terras. Durante as noites, vigie, há muitas hienas e muitos leões. Gritou o nativo enquanto Hanganazi Wiredu continuava a sua caminhada.
A terra de Hanganazi Wiredu fazia fronteira com a Niassalândia, localizava-se há poucos quilómetros onde se encontrará com o homem, era menos desenvolvida e planaltica. Chão avermelhado e as casas eram feitas de bloco de adobe queimado. Estradas sem pavimentos, uma densidade populacional de três habitantes em cada quilómetro quadrado. Temperatura inóspita. Fraca rede de transportes e comunicações. A vida estava difícil.
Senhor, senhor, meu filho. Posso ajudar-te em algo? Perguntou uma velhinha com uma voz de ébano.
Sim pode. Minha água esgotou no meu cantil, gostava que me desse um pouco do seu poço.
Toma, me dê o bebedouro.
Obrigado, estava mesmo a precisar.
Já são quase 5 da tarde, vem comigo, passarás a noite em minha casa, farás uma refeição, e, logo ao espreitar da manhã, rumarás ao seu destino.
Obrigado vovô, muito obrigado mesmo.
Caminharam por meia hora e chegaram ao lugar onde a velha morava.
É aqui. Finalmente chegamos.
É bonito.
Era um terreno vago, com casas construídas ao estilo mukkhota, coberturas à abobada, mas ao estilo local, divididas em três casas, galinhas em circulação no espaço.
Meu marido faleceu há cinco anos, era um homem bom, de coração forte e ambições que transcendia a nossa realidade. No tempo colonial, foi assimilado e quando veio a guerra fomos, arrancados tudo e a depressão tomou conta dele e o levou. Sinto muita saudade dele.
Na manhã seguinte, Hanganazi Wiredu continuou a sua jornada. Numa aldeia próspera, pela sua apresentação foi apedrejado por crianças, as ignorou e continuou.
Em uma região calma, eis que ouvi uma voz:
Alto, parado ai.
Hanganazi Wiredu virou-se e deparou-se com dois homens que um deles carregava uma baioneta e outro com um chamboco.
Estou parado, não me façam mal, sou apenas um pobre homem, querendo emancipar-se na vida.
Calado, alguém perguntou? Disse um deles.
Para onde vais?
Vou a Lourenço Marques, a nossa capital. Lá é uma terra que poderei conseguir um sustento para minha família, minha esposa e meus dois filhos.
Tens a caderneta de circulação?
Não.
Então, como já é tarde, não poderás mais prolongar. Dormirás nas nossas celas e logo pela manhã te deixaremos partir.
De imediato, foi levado a uma esquadra próxima e colocado com dois presos nos quais de imediato simpatizaram.
Para onde vais, matause? Perguntou um dos presos.
Vou a Lourenço Marques, nossa capital, dizem que é terra próspera.
Pareces humilde, qual é o seu nome?
Chamome Hanganazi Wiredu meu pai deu-me o nome. Foi cozinheiro de portugueses, porém ouvia falarem mal de alguém com esse nome, diziam que era filósofo, pan-aficanista sei lá, mas foi alguém importante para emancipação dos africanos e outros de pele negra espalhados pelo mundo.
Realmente tens um nome com significado importante. Porque não passaste de Niassalândia, não seria mais rápido?
Quero conhecer terras, passar por provações e provar desafios para me tornar um homem forte, conhecer pessoas e fazer história.
Logo pela manhã, foi solto e continuou a caminhada. Abarcou em uma cidade violenta.
– Aqui passam comboios que vão a Lourenço Marques? Perguntou a um dos habitantes dali.
Sim passam. Vai até aos caminhos-de-ferro, pernoite e às 4 da madrugada sairão. Assim aproveitarás e seguirás a viagem.
Assim o fez, logo pela manhã o comboio partiu. Devido à guerra, dois dias depois chegou, numa terra com pavimentos espalhados em todas estradas, pessoas envolvidas no negócio, carros e casas diversas. Ali, sim, conseguiria o que tanto desejava.
Prostrou-se e gritou bem alto.
Consegui, cheguei ao meu destino: Lourenço Marques, Obrigado, meu Deus!
As pessoas ficaram estupefactas pelo sucedido e, de repente, sentiu um toque em seus ombros:
Irmão, aqui não é Lourenço Marques, é Nampula.
e-mail: belchioreduardo1990@gmail.com