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Até à próxima!

A minha colaboração, no formato e na qualidade de comentador residente da STV, nomeadamente em sede do programa “Pontos de Vista”, chegou, agora, ao fim. De 2011 a 2019, foram oito anos de uma experiência, a todos os títulos, gratificante e estimulante, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista profissional. A convite do Jeremias Langa, inaugurei, com o Salomão Moyana, o programa “Pontos de Vista”, sob cuja alçada abordamos dos mais variados temas da vida política, económica, social e cultural de Moçambique. Sucessivamente, partilhei o programa com o Fernando Lima e, finalmente, com o Ericino de Salema.

Ao longo de todos estes anos, procurei exercer, plenamente, o meu direito à liberdade de expressão, guiando-me por um princípio fundamental: falar com franqueza, e dizer aquilo que acreditava, de forma honesta, que o público tinha o direito de saber. Mas deixando, ao mesmo tempo, espaço em que coubessem outras opiniões, diferentes da minha. 

Assuntos? Nessa área, Moçambique jamais ficou a dever a ninguém! Da guerra à paz. Da sempre triunfal corrupção à prosperidade na fome… houve que debater! Houve que debater Santungira; houve que debater Muxara; houve que debater a sucessão na liderança do partido da nossa independência; houve que debater Afonso Dhlakama; houve que debater a subida do mais alto magistrado da Nação à mítica Gorongosa; houve, enfim, que debater sobre as capoeiras aonde cacarejam os milhões de frangos da Credit Suisse…!

Mas houve, acima de tudo, que perguntar, vezes sem conta, como se faz democracia sem democratas! Porque tratava-se de um contrato social, assinado com os cidadãos, nos termos do qual estes compravam televisores, pagavam energia eléctrica e reservavam seu precioso tempo para nos ver e ouvir, e em troca nós devíamos partilhar com eles opinião fundamentada e, tanto quanto possível, isenta, assumíamos o dever de nos preparar adequadamente: a pesquisa, em torno dos potenciais temas a debater, no Domingo, começava na Quinta-feira, prolongando-se até Sábado!

Ao mesmo tempo que era aplaudido por muitos, o programa “Pontos de Vista” também atraia a ira dos sectores mais retrógrados e obscuros da nossa sociedade, que, tendo perdido a batalha das ideias, recorreram à barbárie, investindo o seu asco de intolerância, sobre José Jaime Macuane e Ericino de Salema!

Como qualquer um dos contribuintes do programa, incluindo o seu moderador, Jeremias Langa, vivi, também, momentos de impressionante impacto pessoal e profissional que, um dia, quererei partilhar com o grande público, em jeito de memórias e, quiçá, como despretensiosa matéria de referência para as gerações mais jovens de jornalistas. (Um dia, estou certo, o Jeremias Langa, no seu livro de memorias, vai contar como se gere um programa que originou brutais agressões físicas a dois comentadores, por si convidados!)

Querem saber? Oh, desde telefonemas de mukheristas, pedindo que falássemos de alegadas extorsões por agentes das Alfandegas, ao longo destas infinitas fronteiras de Moçambique, passando por gestores de topo da nossa vida pública, levando-nos, pessoalmente, ao escritório, dossiers sobre assuntos complexos e contenciosos, para manipular nossas mentes, até às inúmeras vezes em que, após a transmissão de um programa, o telemóvel ficava rouco, de receber tantas chamadas, noite adentro! Ou de convocatórias para inquisitórias reuniões oficiosas à porta fechada?

Ou daquela vez, em que um grupo de deputados do nosso Parlamento, me interceptou, em pleno almoço familiar, na Feira Popular, procurando persuadir-me, para evitar falar de um determinado assunto na noite daquele Domingo (já era tarde, pois o programa era gravado na manhã do dia anterior, Sábado!); ou naquele dia em que um PCA de uma mais que estratégicas empresas públicas, me “perseguiu”, até à Universidade, arrancando-me, literalmente, da sala de aulas, para me “orientar” sobre como deveria, no Domingo seguinte, abordar aquele badalado dossier sobre as suas imperiais mordomias …

Mas também fixei, com humildade, as inúmeras mensagens de encorajamento caídas, ao longo de anos, no meu telemóvel ou, talvez mais significativo ainda, aqueles simples olhares de cumplicidade que, de forma fugaz, muitos moçambicanos anónimos me dirigiam, na rua ou em mercados populares… E no seu silêncio, eu os ouvia dizendo: “tenha muita saúde!”. E, também em silêncio, eu retribuía, comovido.
Olho hoje para trás e fico honestamente convencido de que valeu a pena: penso, com efeito, que todos quantos colaboramos naquele programa, combatemos o bom combate; porém, diferente de Paulo, não terminamos a nossa carreira, e muito menos esperamos receber a coroa da justiça – que, aliás, jamais almejamos!

E, um pouco na senda destas falas à tela, lancei, em 2016, o livro: “25 Anos de Liberdade de Imprensa em Moçambique: História, Percurso e Percalços”. Entre as pessoas que convidei pessoalmente (porque houve as convidadas pela editora), inclui Jorge Rebelo, aquele que foi o fundador do Ministério da Informação de Moçambique independente. Rebelo teve a grande amabilidade de responder ao meu convite, escrevendo (ele que me perdoe pela inconfidência!) o seguinte:
“Caro Tomás. Obrigado pelo convite ao lançamento do seu livro. Infelizmente não poderei estar presente por razões de saúde. Pelo título percebo que falas da nossa comunicação social desde os primeiros anos da independência. Creio que, se tivéssemos dado espaço a uma imprensa livre desde o início, certamente não teríamos os níveis de corrupção que temos hoje”.

Fixei, com respeito, estas palavras: pela qualidade de quem as disse!
Obrigado à STV pela oportunidade!
 

 

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